Fêmea de Culex quinquefasciatus sugando sobre a pele humana. Foto: Sandra Nagaki, SP

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Conversando sobre mosquitos



Com a introdução e expansão no Brasil de agentes de doenças transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, como os vírus Zika e Chikungunya, recebi algumas perguntas de leitores e posto aqui as respostas. Juntamente, faço análise de novos procedimentos contra a dengue e detalho outras questões a respeito da proliferação dos mosquitos nas cidades e no ambiente rural. 



Se você tiver alguma questão sobre este assunto, poderá me enviar um e-mail no endereço: marinamald@hotmail.com 

Boa leitura!

- Quais os métodos mais eficientes de combate ao mosquito da dengue?
Para o controle de mosquitos em geral, a inclusão de métodos baseados no Manejo Integrado de Pragas é sempre a melhor opção. Pois estes abrangem um conjunto de ações que leva em consideração as integrações existentes entre o meio ambiente, os animais e o homem, buscando um equilíbrio real ao longo desta convivência.
-Você concorda com o uso de outros animais para o combate a dengue? Quais animais podem ser usados?
Na natureza, os insetos tem um papel importante dentro da cadeia alimentar. Eles servem de alimento para uma infinidade de organismos como os pássaros, por exemplo, que comem os mosquitos adultos. Os peixes se alimentam das larvas quando essas são aquáticas. Também as libélulas são importantes predadoras. Mas esse ciclo ocorre em ambiente silvestre e equilibrado com águas correntes ou paradas, porém oxigenadas. No meio urbano e rural este ciclo se rompe em vários pontos, e alguns organismos como os mosquitos se proliferam desordenadamente, pois não há a presença dos seus predadores naturais. Avalia-se que a inserção proposital de organismos predadores num ambiente desequilibrado poderia representar apenas mais um problema. Haja vista que os predadores dos predadores de mosquitos não poderiam ser inseridos juntamente com esses.   
- No Rio de Janeiro, a prefeitura começou a utilizar peixes para comer as larvas do mosquitos. Essa medida é eficaz? 


É uma medida paliativa com uma eficiência baixa, ainda mais se for utilizada isoladamente, pois há uma variedade de criadouros de mosquitos no meio urbano ou mesmo rural onde não se pode criar peixes. Contudo, esse método pode ser incluído dentro de um plano de controle mais abrangente, aumentando a eficácia deste.  
- Em Campinas, uma parceria entre a prefeitura e a empresa Oxitec viabilizou a utilização de mosquitos transgênicos no combate a dengue. O que você acha disso?
Os métodos de controle que utilizam a liberação de mosquitos geneticamente modificados a fim de competir e suprimir os selvagens e a sua propria prole, vêm surgindo como inovações tecnológicas de alto padrão. Acredito que a viabilização desses métodos se faz necessária, pois somente os experimentos no campo vão mostrar o quanto podem ser eficazes ou não. Este, da Oxitec, visa um controle do tipo ‘supressão’, onde ocorre todas as atividades reprodutivas entre os mosquitos, sem contudo produzir descendência, uma vez que os ovos são inviáveis. A competição se dá naturalmente, mas é preciso verificar se os mosquitos modificados teriam o mesmo ‘fitness’ do selvagem, isto é, se seriam competentes o bastante para entrar na ‘guerra’ pelas fêmeas. A natureza pode sim reagir com os seus mecanismos alternativos, se sobrepondo ao longo do tempo. Ou seja, a experiência no campo pode e deve ser feita, mas sobre um tempo longo, uma área restrita e um forte controle e observação do comportamento dessas populações de mosquitos. É preciso verificar se tanto os selvagens como os modificados estão sendo realmente suprimidos. E não atentar somente para a ocorrência ou não de dengue na área de estudo. Pois há muitas outras variantes epidemiológicas naturais na ocorrência da doença, que são alheias ao método de controle em questão.
- É possivel que esses mosquitos tragam ou agravem a transmissão de outras doenças?
O resultado depende de como a natureza vai responder a este evento em especial. Os Artrópodes, Filo a que pertencem os invertebrados como os mosquitos, possuem uma plasticidade genética invejável aos olhos humanos. Mas os experimentos no campo e a observação cautelosa dos eventos ecológicos podem proporcionar resultados seguros e evitar possiveis prejuízos.    
- Plantas podem ser utilizadas no combate da dengue? Quais são e como agem no combate ao mosquito?
Os mosquitos reagem com sinais específicos diante de alguns compostos voláteis de plantas. Pois eles costumam se aproximar para alimentação de açúcar na seiva das folhas. Nesta condição, os mosquitos participam como polinizadores, mas também contribuem para espalhar fungos e bactérias sobre as plantas, tornando-se portanto indesejáveis a esta. Assim, dependendo da fase em que a planta está ou o tipo de planta, são liberadas substâncias voláteis tanto para atrair como para repelir os insetos. Estes, geralmente se afastam na presença de cheiros fortes, como os derivados do eucalipto. Assim, ao colocar plantas ou compostos de plantas pela casa que liberam odores semelhantes, pode sim ajudar a espantar os mosquitos. Contudo, deve haver uma observação se este procedimento não está atraindo os insetos ao invés de repelí-los.           
- Você conhece algum outro meio não convencional para combater a proliferação do mosquito?
A inclusão dos meios convencionais constitui o melhor método para conter a proliferação das pragas em geral. Contudo, no caso dos mosquitos nem sempre os fatores básicos que levam a sua proliferação estão inseridos nos programas de controle. Diante de um planejamento, deve-se levar em conta que o aumento da população de mosquitos é diretamente proporcional à quantidade de problemas existentes na infraestrutura urbana e rural e ao desequilíbrio ecológico de maneira geral. Temos que uma comunidade com alta aglomeração de pessoas, por exemplo, contribui como fonte de alimento para as fêmeas de mosquitos, aumentando o seu potencial de reprodução. Bem como, a grande quantidade de recipientes nos quintais, nas ruas e em meio ao lixo e a existência de buracos e valas com água parada, sem a devida demanda de fluxo contribuem para o rápido crescimento das larvas dos mosquitos. Assim, qualquer tentativa, seja do governo, dos conselhos comunitários ou de cada um no sentido de reduzir esses agravos, contribui consideravelmente para a redução do potencial reprodutor dos mosquitos e consequentemente da proliferação destes.

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