Fêmea de Culex quinquefasciatus sugando sobre a pele humana. Foto: Sandra Nagaki, SP

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ALIMENTAÇÃO DAS LARVAS


Vejam o vídeo das larvinhas de mosquitos Culex se alimentando de matéria orgânica, expelindo e acreditem... limpando o 'nariz'




O PERNILONGO TRANSMITE DOENÇAS?

Sim, o Cx. quinquefasciatus possui competência para abrigar uma variedade de agentes patogênicos e transmiti-los ao homem por meio da picada. Entretanto, a ocorrência de uma doença, surto ou epidemia depende de um ciclo de transmissão no qual participam vetores, hospedeiros e agentes patogênicos, bem como uma série de fatores ambientais e do comportamento.
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O pernilongo está associado ao ciclo de transmissão da filariose e da dirofilariose, uma zoonose - ambas de ocorrência em áreas quentes e de baixa altitude. Embora a incidência dessas doenças em regiões endêmicas possa estar mais relacionada à acomodação e adaptação do agente, a microfilária.
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O Cx. quinquefasciatus, o seu ‘irmão’ Cx. pipiens e os híbridos destes têm sido implicados como vetores ou vetores-ponte na introdução de algumas viroses ou encefalites, em áreas de clima temperado a frio. Como no extremo sul do Brasil, Uruguai, Argentina ou Chile. Os fatores mais relevantes para a capacidade vetorial do Culex nessas regiões seria a já comprovada variabilidade molecular, resistência em períodos de inverno, assim como o comportamento de alimentação de sangue. Pois as fêmeas, de modo oportuno, tendem se alimentar do sangue de aves migratórias, cavalos ou pequenos mamíferos, ocasionalmente infectados com vírus, e após alguns dias transmitir estes para as pessoas por meio da picada ou por repasse da carga viral para as gerações seguintes, durante a fecundação. Como exemplo, destacam-se a Encefalite Eqüina (EE) e a febre do Vírus do Oeste do Nilo (WNV), ambas já ocorridas no Sul do Brasil e Argentina, respectivamente.

E assim ele surgiu..



Em São Paulo...

Com exceção da costa litorânea, até o momento, no Sudeste e em áreas centrais do Brasil não existem relatos do envolvimento do pernilongo em ciclos de doenças infecciosas. Contudo, tem sido causa de incômodo para as pessoas.
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Suspeita-se que o variante genético presente nessas regiões é pouco resistente a picos de temperatura e tende a reduzir muito a frequência da população em períodos de inverno (breaks), bloqueando possíveis repasses de cargas virais para os descendentes. De outro modo, a população de Cx quinquefasciatus, por ter ocupação remota no Brasil, possui índices expansivos de infecção por organismos endosimbiontes capazes de interferir na competência vetorial do mosquito. Igualmente, em grandes centros urbanos o Culex parece se alimentar mais frequentemente de sangue humano, com apenas um repasto sanguíneo para cada ciclo reprodutivo. Isso porque costuma picar durante a noite, enquanto as pessoas descansam ou dormem. Este fato pode reduzir sua capacidade vetorial para viroses urbanas.
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O contrário ocorre com o também urbano Aedes aegypti, vetor do vírus da Dengue, que possui ocupação mais recente no Brasil. Este mosquito pica durante o dia e, quando tem interrompida sua picada, dirige-se rapidamente a outras pessoas até completar o repasto sanguíneo no estômago, aumentando assim a probabilidade de infectar-se. Este vai e vem, além de outros fatores adaptativos, como diapausa, resistência dos ovos, herança de carga viral e baixa simbiose torna o Aedes aegypti muito mais capacitado como vetor, principalmente em áreas urbanas, onde circula o vírus da Dengue e também da Febre Amarela

11 comentários:

  1. Cara Sirlei, parabéns pelo capricho e seriedade com que trata o assunto e seu blog! Sei da dificuldade em mantermos este trabalho. Sou a criadora do blog Vitimas do Culex, do qual vc tb é seguidora. Fiquei encantada em conhecer mais profundamente este pequeno serzinho que certamente tb a encanta,muito embora quando se prolifera desordenadamente produz enormes trantornos. Estamos mais uma vez as voltas com esse problema em nossa região. Gostaria de ler seu comentário em nosso blog, seria muito bom, por favor sinta-se a vontade. PARABÉNS por este trabalho. Grata Lúcia Chaine

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  2. Sra Lucia, eu agradeço sua participação no blog do Culex e gostaria de lhe parabenizar pela construção do blog vítimas do Culex, assim como pelos esforços na recuperação da lagoinha, em sua cidade. Observando as imagens, é certo que existe um ciclo de degradação ambiental na lagoinha, em que um provável baixo fluxo da água e constantes despejos de matéria orgânica (ou resíduos) desencadeiam muito rapidamente no estado de eutrofização, combinado com ausência de oxigênio no meio líquido. Surgem então as macrófitas como uma resposta da natureza para ‘filtrar’ a água e repor o oxigênio perdido, na tentativa de equilibrar o ambiente. Porém esses vegetais acabam se proliferando desordenadamente, sufocando ainda mais o meio. No caso da proliferação do Culex, acredito que esteja mais relacionada com a questão do baixo fluxo da água, uma vez que as jangadas se rompem com o movimento desta, tornando os ovos inviáveis. Também com um bom fluxo a lâmina superficial da água se torna mais fina e as larvas encontram dificuldade para se manter na superfície durante a respiração. Igualmente, a proliferação do Culex se torna maior na presença de macrófitas pelo fato de estas agirem como barreiras para o fluxo da água. No caso de lagoas, uma avaliação técnica e obras de engenharia para contornar o assoreamento, os níveis de entrada e saída de água (vazão) e a retirada de várzeas que comprometem o fluxo da água são medidas essenciais para prevenir tanto a ‘saturação’ do meio líquido como o controle deste mosquito. Espero ter auxiliado e desejo o fim deste problema para a comunidade privilegiada pela visão e contato com a lagoinha.

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  3. Olá amiga receba meus parabens, mais esta vez, pelo empenho e capricho não só na apresentações dos videos como na clareza dos textos.
    Estamos novamente diante de nova infestação em nosso bairro ( Recreio dos Bandeirantes, Parque Chico Mendes). Perto do fim do ano passado o Prefeito de nossa cidade liberou verba emergencial para o combate da infestação do culex àquela época. Mesmo tendo insistido na manutenção dos cuidados com nossa Lagoinha ( visto que com certeza era ela o maior foco de proliferação) nada foi feito. O que se viu nos meses seguintes foi mais um desastre anunciado. Pouco a pouco vimos a retomada das gigogas na Lagoa e com o início do periodo das chuvas de Março o que esta acontecendo era previsível..... Bem minha amiga, volto sempre aqui com adimiração e buscando mais informações. Continuo aguardando sua visita. Abraços

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  4. Oi Lucia! Obrigada. Como é complexo o problema da Lagoinha, pois é um meio bem propício para o Culex. O Promotor Público Ambiental, com um bom relatório de causa, assinatura da comunidade local e sugestões para a solução do problema, tem o poder de intervir junto às autoridades, no sentido de serem tomadas providências com relação à obras de engenharia e limpeza do local em processo. No interior da residência, posso sugerir uma aplicação de K-othrine (um piretróide) ou outro produto similar disponível em agropecuárias. Este deve ser borrifado (com aquele frasco de molhar plantinha) conforme instruções do fabricante, num dia em que a família ficar fora (24h) e fechar bem a casa. Este princípio tem ação repelente e nockdown para mosquitos, e acredito que possa ajudar um pouco. Boa sorte! Qualquer coisa, me comunica. Um abraço.

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  5. olá, Sirlei!
    Gostei do vídeo das larvas, ficou ótimo! Recordei um dia, ainda me recuperando de uma cirurgia, fui para o Laboratório da UFMT 07:00 e fiquei observando uma larva Aedes, se alimentando, se movimentando bastante ativa, liberando excreções e sei lá, o tempo passou e não percebi, senti um "aperto" no estômago e sai um pouco do Laboratório e perguntei ao guarda: sabe que hora é agora? era 15:30 e o que eu estava sentindo era fome mesmo!!!
    um abraço!

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  6. Obrigada, Bia! Rs,rs, acho que você levou o guiness nessa...Nem eu, com as filmagens, observei tanto assim...Um abraço!

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  7. Olá Dra Sirlei, meu nome é Natan, sou estudante de Ciências Biológicas UFPE. Gostaria de saber quais são as adaptações na morfologia de larvas de Culex e Aedes para se adaptar ao ambiente aquático. Desde já agradeço pela atenção, abraço e boas pesquisas.

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  8. Olá Natan! Respondi com um post a tua questão. Para visualização você poderá clicar no titulo 'o mosquito culex' que o novo post vai aparecer. Obrigada, sirlei

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  9. Olá Sirlei, meu nome é Raphael, sou estudante do ensino médio e estou fazendo vestibular para biologia este ano. Achei muito interessante o seu blog, e, lendo este post, me surgiu uma questão que já é, de certa forma, um pouco batida, mas que nunca tive uma resposta concreta de um especialista.
    Já que é possível os mosquitos carregarem um vírus e transmitirem ao homem através da picada, seria possível ocorrer alguma espécie de surto de alguma doença, como a AIDS, por exemplo, por conta deste fator? Se não, o que impede que isto aconteça?
    A propósito, gostaria de pedir desculpas se esta pergunta já tiver sido respondida de alguma forma que eu não tenha compreendido no próprio post.
    Parabéns pelo trabalho e pelo blog. Achei muito interessante, e, pode ter certeza que ganhou mais um leitor hoje.
    Aguardo a resposta.
    Abraços,
    Raphael.

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  10. Olá, Raphael, e obrigada pelo teu contato. Sim, os mosquitos carregam virus, bactérias, protozoários e helmintos, todos agentes patogênicos que causam doenças ao homem. Contudo, o que os tornam bons vetores é a competência maior ou menor que o organismo deles possui em favorecer o crescimento e infectividade desses patógenos. Assim como, a capacidade em transmitir esses agentes para o homem. Lembre-se que para uma doença, surto ou epidemia ocorrer existe toda uma sincronia de acontecimentos dentro de um ciclo epidemiológico. No caso da AIDS, dentre outros fatores, o virus provavelmente não sobrevive na linfa 'fria' do mosquito, uma vez que esse agente é veiculado em hospedeiros de 'sangue quente'. Espero ter auxiliado, e desejo a você boa sorte na profissão de Biólogo..Sirlei

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  11. Obrigado pela resposta, Sirlei.
    Agradeço novamente e desejo a você boa sorte para a continuação do seu trabalho, que é um dentre os quais me fizeram optar por esta profissão.
    Abraços!
    Raphael.

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